Método Soil Conservation Service - SCS

Método Soil Conservation Service - SCS

15/05/2020    

1. Separação do escoamento

A separação do escoamento é a etapa do método SCS que consiste na determinação volume de água que entra na bacia através da precipitação que será escoado superficialmente, através de um balanço hídrico. A precipitação que cai sobre uma bacia hidrográfica pode seguir quatro caminhos potenciais: parte da precipitação é interceptada pela vegetação e evaporada para a atmosfera; parte cairá sobre o solo e irá evaporar; parte irá infiltrar no solo; e o restante irá escoar superficialmente na bacia. A quantidade de precipitação e o parâmetro Curve Number (CN), irão determinar a quantidade de água que irá escoar na bacia e encontrar os cursos d’água superficiais.

O parâmetro CN ou número de escoamento da bacia hidrográfica retrata as condições da camada superficial do solo, que pode variar desde uma cobertura muito permeável até uma cobertura completamente impermeável, e da camada superior de solo, que pode ter capacidade de infiltração alta ou baixa.

O CN é um parâmetro adimensional e seu valor varia entre 0 e 100, sendo que 0 corresponde a um solo com capacidade de infiltração infinita e 100 corresponde a um solo totalmente impermeável (COLLISCHONN; DORNELLES, 2013).

Esta separação do escoamento no Método SCS é realizada através da a Equação:

\begin{equation} \label{eq:VolumeSuperficial}\tag{1} V = \frac{(P - I_{a})^{2}}{P+S-I_{a}} \end{equation}

Onde:
V: volume superficial acumulado (mm);
P: precipitação total acumulada (mm);
\(I_{a}\): perdas iniciais (mm);
S: capacidade máxima de armazenamento da camada superior do solo (mm). \

O parâmetro \(I_{a}\) representa as “perdas” de água que ocorrem antes do escoamento começar, ou seja, é a porção do volume de água precipitado que não é escoado superficialmente, seja por interceptação na vegetação, evaporação, infiltração ou outras causas. Esse é um parâmetro bastante variável, mas geralmente se relaciona com parâmetros do solo e da cobertura da bacia. As perdas iniciais pode ser estimado para as condições médias como sendo 20% da capacidade de armazenamento do solo (equação \ref{eq:PerdasIniciais}).

\begin{equation} \label{eq:PerdasIniciais}\tag{2} I_{a} = 0,2.S \end{equation}

A determinação do parâmetro foi estabelecida através de uma escala onde a variável é o parâmetro CN. A Equação \ref{eq:CapacidadeMaximaArmazenamentoSolo} representa relação entre o parâmetro e a variável e está convertida para unidades métricas.

\begin{equation} \label{eq:CapacidadeMaximaArmazenamentoSolo}\tag{3} S = \frac{25400}{CN} - 254 \end{equation}

2. Propagação superficial

O modelo SCS utiliza o hidrograma unitário sintético triangular, figura 1. A forma do hidrograma unitário depende da área da bacia hidrográfica, da duração da chuva efetiva unitária e do tempo de concentração da bacia.

hidrogramaSCS Figura 1: Hidrograma unitário triangular SCS

Tempo de concentração é o tempo que leva para que o escoamento chegue até um ponto de interesse, a partir do ponto hidraulicamente mais distante. No caso desse modelo, o ponto de interesse é o local onde será posicionado o reservatório.

Segundo USDA (1986, o tempo de concentração da bacia (\(T_c\)) é um parâmetro crítico do modelo SCS. Esse parâmetro influencia na forma e no pico do hidrograma de escoamento.

Segundo Silveira (2005), o tempo de concentração é um parâmetro hidrológico difícil de ser estabelecido com critério pelos projetistas, pois há pouca informação sobre a aplicabilidade das diversas fórmulas empíricas disponíveis. Este exemplo usa a fórmula do tempo de concentração de Schaake, sendo utilizada para bacias urbanas menores que 0,7\(km^2\).

\begin{equation} \label{eq:tempo-de-concentracao}\tag{4} T_{c} = 0.0828.(L^{0.24}).(S^{-0.16}).(A_{imp}^{-0.26}) \end{equation}

Onde:
L: comprimento do coletor pluvial ou canal principal (km);
S: declividade média do coletor pluvial ou canal principal (m/m);
\(A_{imp}\): fração de área impermeável, variando entre 0 e 1 (adimensional).

O hidrograma unitário é definido por cinco parâmetros: a duração da chuva efetiva unitária (D); o tempo de pico \((t_{p})\), que é o tempo desde a metade da duração da chuva efetiva unitária até o pico de vazão do hidrograma unitário, calculado pela Equação:

\begin{equation} \tag{5} t_{p} = 0,6 . T_{c} \end{equation}

Onde:
\(T_{c}\): tempo de concentração da bacia (horas).

O tempo de subida do hidrograma (\(T_{p}\)), é o tempo desde o início do evento chuvoso até o pico do hidrograma unitário, calculado pela Equação:

\begin{equation} \tag{6} T_{p} = t_{p} + \frac{D}{2} \end{equation}

Onde:
\(T_{p}\) : Tempo de subida do hidrograma (horas);
D: Duração da chuva efetiva unitária (horas).

O tempo de base (\(t_{b}\)), é o tempo desde o início do evento chuvoso até o final do escoamento superficial no exutório da bacia, calculado pela Equação:

\begin{equation} \tag{7} t_{b} = T_{p} + 1,67.T_{p} \end{equation}

A vazão de pico do hidrograma unitário (\(q_{p}\)), calculada pela Equação:

\begin{equation} \tag{8} q_{p} = \frac{0,208.A.P}{T_{p}} \end{equation}

Onde:
A: Área da bacia hidrográfica (\(km^{2}\));
P: Precipitação (mm).

A chuva efetiva unitária deve ter uma duração 5 a 10 vezes menor que o tempo de concentração da bacia.

3. Hidrograma unitário adimensional

Usando o hidrograma unitário adimensional (figura 2) pode construir qualquer distribuição de chuva, dividindo em número de elementos da precipitação efetiva unitária e desenhando o hidrograma unitário para cada um. O hidrograma resultante seria então a soma de todos os hidrogramas unitários. O SCS desenvolveu uma base de dados de hidrogramas unitários a partir de parâmetros que descrevem as características das bacias hidrográficas, bem como os padrões de precipitação para locais geográficos específicos.

HU Figura 2: Diagrama unitário adimensional

4. Exemplo prático

Na tabela 1 foi utilizado o tempo de duração de 60 minutos, tempo de retorno de 50 anos e CN da bacia contribuinte de 80, correspondente a uma chuva intensa em Fortaleza.

índice td(min) i(mm/h) td(h) precipitação(mm) precipitação acum.(mm) precipitação excedente – acum(mm) precipitação excedente em cada tempo(mm)
1 6 37,1 0,1 3,71 3,71 0 0
2 12 49 0,2 4,9 8,61 0 0
3 18 68,7 0,3 6,87 15,48 0,117 0,12
4 24 105,5 0,4 10,55 26,03 2,313 2,2
5 30 188,8 0,5 18,88 44,91 10,84 8,53
6 36 137,6 0,6 13,76 58,67 19,304 8,46
7 42 83,9 0,7 8,39 67,06 25,072 5,77
8 48 57,5 0,8 5,75 72,81 29,231 4,16
9 54 42,4 0,9 4,24 77,05 32,389 3,16
10 60 32,9 1 3,29 80,34 34,888 2,5

Tabela 1: Precipitação de projeto

A Figura 3 mostra a relação da precipitação total e a parcela de precipitação efetiva (que se transforma em escoamento superficial direto).

graficoPrecipitacao Figura 3: Precipitação Total x Precipitação Excedente

Para obter o hidrograma de projeto deve-se associar a parcela de cada bloco que escoa a uma determinada precipitação efetiva unitária, fixando o tempo de duração, acha-se o hidrograma unitário dimensional, para então descobrir a vazão e o hidrograma do bloco. Aplicando os princípios da proporcionalidade e da superposição é possível calcular os hidrogramas resultantes de eventos complexos, a partir do hidrograma. Este cálculo é feito através da convolução das ordenadas de cada bloco. O hidrograma é, normalmente, definido como uma função em intervalos de tempo discretos. Na figura 4, o tempo de concentração foi determinado pela fórmula de Schaake, aplicável para bacias urbanas menores que 0,7km², adotando a área da bacia 40ha, área impermeável de 0,5 e declividade de 1% para uma chuva com tempo de duração de 60 minutos. Os valores q1, q2,…,\(q_{n}\) se referem à aplicação de cada bloco da precipitação excedente em cada tempo, que será dividido pela precipitação e então multiplicado pela vazão do hidrograma unitário.

HidrogramadeProjetoArtigo Figura 4: Hidrograma de projeto

Está disponível no Google Sheet e no Dropbox a planilha e o vídeo (figura abaixo) que explica o passo a passo do método.


Fonte

COLLISCHONN, W.; DORNELLES, F. Hidrologia para engenharia e ciências ambientais.2013.

USDA, S. Urban hydrology for small watersheds. 1986. 2–6 p.

SILVEIRA, A. L. L. da. Desempenho de formulas de tempo de concentração em baciasurbanas e rurais. 2005. 5–23 p.